sábado, 8 de dezembro de 2007

Coisas da China


Hoje, quando fui fazer o teste, estávamos eu e outra garota esperando para ser maquiadas. Olhei para o pé dela e vi uma tatuagem, que não consegui distinguir o que era. Quando perguntei, ela achou graça que eu, uma chinesa, perguntasse a ela, brasileira, o significado daquilo, pois era um ideograma chinês. Então ela me explicou que o significado de sua tatuagem era "vida", no sentido de "caminho", de "o que está traçado". Achei bonito. A conversa foi curta, pois logo entrei para ser maquiada e tínhamos que falar baixo, para não atrapalhar o teste. Mas prometi achá-la no orkut para trocarmos figurinhas.
Enfim, no caminho de volta fui pensando alguma coisa sobre a China e lembrei que, na época em que estive lá, eu ainda não tinha blog. Então resolvi compartilhar algumas situações inusitadas e outras nem tanto, mas que me marcaram.
O trânsito, no interior da China, é caótico. A conclusão a que chegamos é de que eles dirigem carro com a lógica da bicicleta. Eles são capazes de andar durante vários minutos na pista contrária, há uma mistura de gente no meio de carro, no meio de bicicleta, moto e triciclo, todos virando, entrando na frente um do outro, fazendo umas travessias malucas. E o mais espantoso: não há um só acidente! Não vi! Ainda por cima, não têm dó de meter a mão na buzina. Mas levar buzinada não é ofensa, não, é praxe. É preciso que fique claro que isso que estou falando aplica-se à região de Sichuan, porque em Pequim o trânsito é bem organizado. Mas em Chengdu, no dia em que vimos um motorista ser multado, ficamos curiosíssimos pra saber que proeza ele tinha feito. Porque lá eles atravessam sinal, andam na contramão, fazem qualquer coisa... O Jacques comentou que, pra conseguir ser multado, o cara deve ter feito pirueta, saltado e sapateado com o carro. Acredito que sim.
O supermercado chinês era meu paraíso! Veja só, eu que enlouqueço até naqueles mercadinhos da Liberdade! Ficava fascinada no meio de tantas embalagens coloridas, mas não entendia bulhufas! E esses produtos sabem enganar! Nunca esqueço uns pacotinhos coloridinhos na Liberdade, com Hello Kitty, Keropi, com a maior cara de pacotes de doces, imagine minha decepção ao descobrir que eram comidas salgadas super sérias! Por via das dúvidas, experimentava de tudo! Aquelas frutas secas bem azedas, só de pensar, fico com água na boca. Leite fermentado, suco de todos os sabores possíveis, salgadinhos, bolo, macarrão... Várias vezes acabei jogando comida fora, como o salgadinho que parecia tão saboroso na embalagem, ou o suco de não sei que flor. Mas descobri coisas deliciosas, como um leite fermentado mais gostoso que yakult, gelatina de babosa, uma ameixa seca azedinha. Também comprei um chá de jasmim que adoro e preparava todas as tardes no hotel. Gostosas lembranças...
Ah, claro, não posso deixar de contar do bar gay! Não é que descobrimos que no interior do interior da China havia um bar gay? É lógico que resolvemos conferir! Decepção: éramos as únicas almas vivas no local. Agora alguém me explique como o dono sobrevive... Ok, ok, está certo que fomos em uma terça-feira, vá lá...
Quando estava quieta no meu quarto, ficava assistindo TV pra ter mais contato com a língua. Mas o programa de que gostei pra valer era uma novela italiana. Como era dublada em chinês, estava valendo. Só consegui assistir dois episódios, depois procurei-a em todas as lojas de DVD, em vão. Lembro que tinha uma personagem chamada Maria, que ficou meio louca, porque tinha lembranças reprimidas da época da morte da mãe. Era italiana mas o drama fazia jus às novelas chinesas!
Durante o café da manhã no hotel, um homem de Taiwan começou a conversar comigo e, quando soube que eu era brasileira, disse que havia uma menina brasileira na excursão em que ele estava. Ele chamou-a e conversamos um pouco. Essa garota mora em São Paulo e quase fez o teste pro filme também, mas acabou não fazendo porque estaria ocupada no período da filmagem. Adivinha qual era a ocupação dela? A viagem pra China!
Sabe aquele dia em que tudo dá errado? O dia foi ótimo, mas a noite... Estávamos em Sichuan passeando, passeando. Mas na hora em que bateu a fome, não havia restaurante algum por perto. Tivemos que caminhar muito até chegar na área da comida. Depois de muita indecisão e impaciência sobre onde comer, resolvemos entrar em um restaurante. A Débora ficou reclamando da higiene dos copos e quando cogitamos se permaneceríamos ali, o David se irritou de vez e voltou pro hotel. Tá. Comemos o pedido que já tinha chegado, cancelamos os outros e trocamos de restaurante. Cada um fez seu pedido, todos foram chegando e nem rastro da minha sopa. A comida da Elisa veio errada, todo mundo comendo. Nada da minha sopa. Eu perguntava pra garçonete e ela dizia que estava chegando. O tempo passa. Nada da minha sopa. Quando todo mundo já estava acabando de comer, me aparece a garçonete dizendo que minha sopa estava em falta. Eu, que até então estava levando na esportiva, resolvi levantar e ir embora. Na saída, mais confusão, porque não queríamos que a Elisa pagasse pelo prato errado, que não comeu. Depois de muito discutir com a garçonete, pagamos tudo, pois sabe-se lá o que acontece em outro país com estrangeiros não pagantes... Melhor não arriscar. Mas eu continuava com fome. Então apelei: entrei no KFC. Quando eu estava fazendo meu pedido, apagaram as luzes. Só pudemos rir. Comi no escuro. À noite, o pessoal resolve sair e passamos pela mesma peleja, de bar em bar, com muito estresse. No dia seguinte falei ao Chao que ele estava certo em não ter ido. E ele me perguntou como não percebi, havia tido todos os sinais de que era o dia pra me trancar no hotel e não sair mais até o dia seguinte.
Já em Pequim... Mercado de seda! Eu, que havia dito que não compraria roupa na China, queimei a língua. Peças lindíssimas. O negócio ali é saber pechinchar. Eu entrei no espírito. As maiores poliglotas da China são as vendedoras de lá. Fazem de tudo pra vender, falam inglês, espanhol, javanês. Chamam-nos de "amiga", puxam-nos pelo braço. A Débora se envolvia emocionalmente e sofria. Eu não. Aproveitava a situação. Elas parecem que vão morrer pra te convencer a comprar um produto, fazem cara de choro e tudo. Eu perguntava os preços e elas me respondiam "800". Eu comprava por 50. Mas isso porque eu comprava muito bem, conseguia dobrar as vendedoras. Virou um jogo, porque nessa de pechinchar, a gente acaba não sabendo qual o real valor do produto. A Débora negociou uma mala por 100, mas queria dar mais uma olhada antes de comprar. A vendedora quase se descabelava pra que ela comprasse naquele exato momento, dizendo que ela não voltaria. Não é que a vendedora da loja em frente ofereceu o mesmo produto por 95? Demos nossa volta e a Débora fez questão de voltar e comprar da vendedora magoada. Toda ressentida, ela disse que não venderia mais por 100, mas por 150. Fomos à loja em frente e compramos por 95, claro! Na saída, a mulher olhou pra Débora, toda raivosa, e falou: "I don´t like you! You're a mean lady!" Eu tive que achar graça, mas a Débora se magoou.
Eu e Débora passamos por tanta situação inusitada juntas que até combinamos de montar uma peça. Teve o dia do supermercado, em que resolvemos transportar o carrinho na escada rolante e quase caímos com carrinho e tudo duas vezes, uma na subida e outra na descida. Teve o dia na lan house, em que o rapaz veio ajudá-la com um problema no computador, mas acabou mexendo na internet pelo computador dela e depois ficou um tempão parado atrás do nosso ombro. Teve o relógio que a Débora comprou feliz da vida, ficou elogiando, dizendo que havia feito bom negócio, até achar um igual mais barato e dar chilique. Teve o taxi em que ficamos desconfiadas inventando conspirações, para depois rirmos muito da nossa paranóia.
Em Pequim fomos a um barzinho indicado pela produtora de lá. Não sei o nome dela porque não era unanimidade, cada brasileiro a chamava de um jeito. Era um ambiente descontraído, com almofadas e mesinhas baixas. O Moacyr ficou dizendo que não acreditava que havia saído em Pequim para ir a Santa Teresa. Cada um pediu sua bebida, eu pedi Ice Tea. Todos bebendo e nada do meu Ice Tea. Depois de um longo tempo, fui tirar satisfação com a garçonete e o que ela me responde? "Ele está sendo feito"... Explicado! Foram fazer o Ice Tea! Ou seja, cozinhar água, preparar chá e colocar na geladeira?!!
Eu andando pelo Lufthansa Shopping, em plena Pequim, e que música escuto a tocar? "Começar de novo", do Ivan Lins!
Bem chega de histórias da China, pelo menos por hoje.

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