segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Acontece...




Confesso, com alguma vergonha, que caibo em mim. Pequenamente meus sentimentos ocupam o espaço da praticidade cotidiana. Vivo com reservas, economizando nas ilusões, nos amores e no sangue. Caminhando em um ponto limítrofe, do qual eu talvez possa escapar. Mas eu quero a via crucis. Quero uma vida que não caiba na minha vida. Às vezes isso. Mas às vezes só quero ser simples e leve.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Chegada


Entro. Não sei quanto tempo fico. Sei que fico. Sacudo a poeira trazida de outras terras, dos tantos caminhos que percorri para chegar até você. Eu não sabia aonde ia, tantas vezes me perdi. Tateei cegamente até te encontrar. Aqui ergo minha nova morada. Dispo-me das mantas com que outros me aqueceram, arranco os espinhos com que outros me feriram, livro-me dos adornos, dos odores, dos sabores, dos saberes. Para chegar pura e sem medos.

Minto se disser que te reconheci de imediato. Minto se disser que não hesitei entre permanecer e seguir outros rumos. Mas simplesmente me permiti brincar nos seus jardins e, levianamente, infantilmente, fui sendo feliz. Até perceber que não quero ir embora. Não agora, enquanto ainda há tesouros a serem encontrados.

Porque ainda somos tão novos um ao outro, eu me perco continuamente em seus labirintos. Ainda não aprendi a decifrar sua língua, não me ajustei a seu fuso horário. Tropeço em pérolas e também em pedras. E às vezes olho sua paisagem e me pergunto se ela me será hostil ou suave. E por um segundo tenho medo, depois me encho de mais coragem.

Que marcas vocês imprimirá em meu corpo? Com que cores tingirá minha aura? Com que armas me ferirá? Quais serão nossas coincidências? O que me tornarei depois de você? Qual Lian você despertará em mim? De que sonhos você me alimentará? Qual será sua face para mim? Você deixará um rastro suave ou pegadas indeléveis? Ou simplesmente permanecerá? Ou talvez nem exista?

Não temos ainda uma história, temos perguntas e possibilidades. Todas elas. E a história que construiremos se erguerá sobre novas perguntas e nunca sobre respostas, pois duas pessoas nunca se encerram. Que nosso encontro tenha a suavidade de uma tarde de primavera. Que enfrentemos nossas oposições de peito aberto e coração desarmado. Que sejamos adubo para o sonho do outro, nunca castração. Que desbravemos juntos novos horizontes e que você me aponte um novo ângulo e que eu te apresente uma outra visão. E que possamos, sem receio, desnudar nossos segredos, ânsias e defeitos. E que apesar disso e por isso mesmo sejamos ainda mais amados. Por tudo que somos, incluindo aquela parcela de mim que me será sempre inalcançável e aquela de ti que lhe será inatingível.


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Faz pouco tempo postei um texto chamado "Partida", a partir de um meme cuja proposta era escrever uma carta terminando um relacionamento. Gostei tanto da idéia que me propus, agora, o contrário: um texto iniciando um relacionamento...