quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Debate


Ele está à minha frente e, porque temos os mesmos anseios, falamos sobre ele, o amor. As prisões do amor. O jugo. A doação. Do quanto de nós somos capazes de abrir mão por um pouco de afeto. Ele argumenta que quem ama se sujeita.

Eu objeto.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Ponto de desencontro


Não vamos direto ao ponto. Pois o ponto é o caminho exato em que a gente se perde. O ponto vulgariza, empobrece. Vamos fazer ciranda, dar voltas. Esquecer o objetivo, o ponto final. Não vamos direto ao ponto, ao pronto afinal. Abra um sorriso e feche a boca antes que escapem palavras. Dê um caso ao acaso, se for o caso nos cruzamos por aí. Não vamos direto ao ponto, que o ponto final é cemitério. Não vamos ao ponto, deixemos vivo o mistério.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Sonhos outros

Outro dia uma colega me contou que, quando criança, ela pensava que sonhos eram experiências compartilhadas. Ou seja, se ela sonhava com fulano, então fulano tinha o mesmo sonho. Ela devia ter uns quatro anos de idade quando, um dia, após sonhar com seu irmão, ela acordou e comentou com ele: "foi muito engraçado aquilo que você fez...", referindo-se a seu sonho. Ele riu. Então, decepcionada, ela descobriu que aquilo, o sonho, só se passara com ela.

Eu demorei muito mais para fazer essa descoberta. Há muito passara da infância. Ou quem sabe era a infância que passara da idade, mas não passara de mim. Sei que por muito tempo acreditei que as experiências eram sonhos compartilhados. Que, se eu vivia um momento com alguém, então necessariamente este alguém vivia o mesmo momento comigo. Depois vim a descobrir que compartilhar o ambiente e o tempo com alguém não significa compartilhar experiências. Que um momento pode ser especial, tedioso ou apaixonante apenas para você, pois o outro é um universo insondável. E que as almas são, sim, incomunicáveis, pois mesmo na linguagem, único ponto de encontro, existe um abismo intransponível.

Depois disso deixei de ser criança.