domingo, 11 de janeiro de 2015

Todos os caminhos



Então eu saí decidida a fazer um caminho diferente. Em vez de ir pelos ghats, chegaria ao último deles pela estrada.  Não sou boa de orientação, mas parecia simples: a estrada é paralela ao rio.

Segui.

Passei por vários carrinhos de comida de rua e fiquei maravilhada pelo que pareciam infinitas combinações de pé-de-moleque. Amendoim caramelizado. Arroz caramelizado. Gergelim caramelizado. E vários outros grãos e castanhas que não conheço. Passei por vira-latas magrelos, como são todos daqui. Os mais lindos cachorros do mundo. E sempre perto de alguma brasa, para se aquecer. Brasa sempre. Fogueiras. Fumaça de todos os tipos, para todo lado. Os indianos estão sempre queimando alguma coisa. Acho que passei pelo bairro muçulmano, porque de repente eram tantos com aquela roupa típica, com o chapeuzinho. E as mulheres de burca. E eu passei pelos homens escovando vacas e por um grupo de crianças que corriam.

Quando me dei conta, estava completamente perdida. Tentei pedir informação a umas duas pessoas, mas nenhuma delas entendia inglês.

Dei-me por vencida e achei que o mais sensato seria voltar pelo caminho de onde vim – se eu lembrasse.  Por precaução, sempre evito fazer muitas curvas, quando não conheço o lugar.

Mas foi neste instante em que apareceu uma procissão de homens carregando um defunto. O que provavelmente significava que eles iriam ao ghat de cremação. Ou seja: o rio. Resolvi segui-los. Eles andavam rápido, gritando coisas e jogando pétalas de rosas sobre o corpo.

Em certo momento pararam. Colocaram o corpo – envolto por tecidos coloridos vibrantes – sobre o chão. Estariam descansando? Sei que notaram minha presença inconveniente ali, um cochichou com o outro e todos me olharam. É verdade que eu não deveria segui-los, essas procissões são só de homens e eu, afinal, nem conheço o defunto.

Mas eu só queria chegar aos ghats – como explicar-lhes?

Não foi preciso. Eles pegaram o corpo e continuaram a procissão.

E eu continuei a segui-los, tentando desviar dos carros e pessoas e motos e bicicletas, em passos apressados, até perdê-los de vista.

Sim, eu os perdi. E me senti ridiculamente imbecil por conseguir perder um grupo de homens carregando um defunto em tecidos vibrantes.

Então tive que voltar tudo. Andei bastante, no sentido oposto, até conseguir me localizar. Como àquela altura eu já estava esfomeada, resolvi que iria ao restaurante de sempre e só depois recomeçaria meu caminho rumo ao Asi Ghat, meu destino original.

Cheguei ao restaurante, que estava cheio, e acabei compartilhando mesa com um casal de israelenses. Começamos a conversar e eu descobri que eles moravam exatamente aonde eu queria chegar.

- Você quer nos acompanhar, depois do almoço?

- Claro.

E assim a vida tem me guiado, pelos caminhos mais longos e mais certos.


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