quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Passavam-se por indianos, os dois, em suas peles escuras e roupas claras. Mas, como falassem espanhol, perguntei-lhes de onde vinham. 

- Da América Central. Eu, da Nicarágua. Ele, de Honduras. 

O nicaraguense era mais falante. Hernan, seu nome. Contou-me que estivera várias vezes no Brasil. E que vinha à Índia pelo uma vez ao ano.

- Para encontrar o nosso guru. - explicou, já emendando uma pergunta - E você, não tem uma busca espiritual aqui?

- Não exatamente.

- Deveria aproveitar que está em Varanasi. Este é o lugar certo.

- É... talvez...

- Mas você acredita em Deus?

- Em parte... Não...

- ... não no Deus tradicional, né?

- Isso.

- E você pratica yoga?

- Um pouco.

- Que tipo de yoga?

- No Brasil eu praticava Iyengar. Aqui...

- Mas o que é isso? Posturas, né?

- É.

- Não é disso que estou falando. Mas de yoga mental. Meditação.

- Ah, tá...

- Você deveria vir conhecer o nosso ashram. Este é nosso guru. - e mostrou-me a foto no colar de Gonzalo, seu amigo hondurenho.

- É possível que sim. Quem sabe eu vá...

- Tudo que nos aparece é um caminho, uma porta aberta. Se você não entra, pode deixar a oportunidade passar. Talvez o nosso encontro seja esse sinal, que você deve ler.

- Talvez.

E fui embora pensando no talvez. Nas portas abertas. Nos caminhos convidativos. Talvez eu fosse conhecer esse ashram, quem sabe?

Sei que hoje, antes de uma aula, fui tomar um lassi aqui perto. Na saída, ouvi meu nome.

Eram os dois. Bonitos, em suas roupas brancas. Conversamos mais um pouco. Na despedida, Hernan chamou minha atenção:

- É o segundo dia seguido que nos encontramos. Acho que isso quer dizer alguma coisa.

E quem sabe o que isso quer dizer?

Se me dizem que venha, eu não vou. Mas se me abrem a porta, talvez eu entre.

Eu acredito em todos os caminhos.

Sobretudo nos labirintos.

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