quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

- Venha comigo - me disse o moço, quando cheguei ao International Music Centre Ashram, onde havia marcado uma aula de dança kathak.

Segui-o pelas vielas, até chegar a uma construção grande e caindo aos pedaços, como se fora um palácio em ruínas.

- Será aqui, sua aula. 

Era a casa da professora, que apareceu logo em seguida. Pediu que eu me sentasse, para depois pedir que eu me levantasse. Orientou a posição dos meus braços e ensinou-me a batida dos pés:

- Ek, do, teen, char. Char, teen, do, ek.

Depois de um tempo treinando apenas a batida, acrescentamos o movimento dos braços, o que bagunçou tudo.

- A mão não vira para fora. A mão não vira para dentro. O braço não se curva. O quadril não se movimenta.

Eu me sentia toda errada.

- Podemos passar para o próximo movimento? - ela perguntou, depois de um tempinho de treino.

- Ainda não.

Preferi passar uma hora repetindo as mesmas coisas, sincronizando os movimentos e fazendo meu corpo entender.

Foi chato.

No final da aula, ela perguntou se eu queria que me acompanhasse a algum lugar. Apesar de não fazer ideia de onde eu estava, preferi seguir sozinha.

Eu estava perdida. Andei por vielas desconhecidas e, quando encontrei alguma referência familiar, já estava muito longe. E também estava perdida em meus próprios labirintos.

Fui conversando comigo mesma, enquanto tentava decidir se dava prosseguimento ao curso:

- Foi prazeroso?

- Não.

- Mas tem que ser prazeroso?

- Também não.

- Eu tive empatia pela professora?

- Não.

- Mas tenho que ter, pelo menos de cara, empatia pela professora?

- Também não.

E não conseguia decidir nada.

Mais tarde encontrei dois amigos e ficamos diante do rio, admirando a lua cheia. Quando lhes expliquei meu conflito, um deles observou:

- Eu acho que você já sabe a resposta. Você mesma acabou de falar que não quer ser uma bailarina de kathak.

E subitamente eu sabia.

Mas é que sempre que vejo algo belo, tenho vontade de participar. Pertencer.

Então fiquei ali, admirando a lua cheia e deixando-a me fazer compreender: que a capacidade de ser tocado por algo belo, seja a lua, seja a arte, também é uma forma de fazer parte.

Um comentário:

Clarice disse...

Existem coisas que a gente pode ser por dentro e são o que somos, mesmo que não se concretizem no mundo real. O real estragaria alguns sonhos.
Abraço.