domingo, 19 de abril de 2015

10 de março

Cada lugar tem suas próprias regras e um jeito específico com que nos movimentamos nele.
Há alguns anos fui com uma amiga a Buenos Aires e achávamos graça sempre que solicitávamos informações na rua. Não importava aonde íamos, a resposta era que o destino em questão ficava a quatro quadras dali. Se andássemos duas e perguntássemos de novo, a instrução continuava sendo: seguir mais quatro quadras.
Aqui em Kathmandu temos nos aventurado de moto pela cidade e paramos de quando em quando para perguntar a direção. Todas as vezes a indicação é a mesma: siga em frente.
O que me faz pensar que estamos sempre no caminho certo. O que, por sua vez, me faz pensar que todos os caminhos são certos. O que, por outra vez, me lembra um verso de Pessoa: "Nunca ninguém se perdeu. Tudo é verdade e caminho."
Só é preciso que sigamos em frente.
Seguir em frente nem sempre é fácil e na maioria das vezes exige muitos desvios. O bonito são as estradas inesperadas. E o fascinante é que quase nunca chegamos ao destino programado.
Pois ao mesmo tempo em que consegui resolver minha passagem de volta, ao meu amigo foi imposto um problema que talvez comprometesse o resto de sua viagem. Ele estava preocupado. Eu, impotente. Prefiro não falar coisas como "não se preocupe, vai dar tudo certo", porque a mim me soam como palavras vazias, que também não gosto de escutar. E quem sou eu para tratar a preocupação de outrem como algo a ser descartado?
Então não falei nada. Deixei ser e tivemos um dia bom, caminhando em Patan, um simpático bairro cheio de templos e casas antigas. Na volta, nos perdemos várias vezes. E deixamos que a cidade nos guiasse:
- Siga em frente.
Os caminhos nem sempre são previsíveis. Mas seguimos.

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