domingo, 19 de abril de 2015

- Os que pedem dinheiro não são homens santos de verdade. - me explicou um amigo em meus primeiros dias de Varanasi - Os verdadeiros babas não pedem nada.
- Então não existem homens santos. São todos falsos. - concluí.
Eu via por todos os lados esses homens de cabelo e barba crescidos, em roupas alaranjadas ou nus, cobertos de cinzas. Eles ofereciam-se para serem fotografados, sempre em troca de dinheiro. Às vezes, impunham valores altos:
- Cem rúpias por cada foto - me disse um deles, quando apontei-lhe a câmera.
Quando deixei de acreditar, comecei a descobri-los: os babas. Aqueles que abdicaram da vida material em nome do caminho espiritual. Eles estão por aí, somos nós que não enxergamos, tão ofuscados estão pelos falsos babas, que ostentam sua santidade pelos ghats.
- Este é um baba de verdade. - apresentou-me meu amigo espanhol a esse homem, longo rasta e feições firmes, de uma dignidade que salta aos olhos.
O baba de verdade tem esse ar de senhor que é, ao mesmo tempo, sábio e humilde. Passo por ele e trocamos algumas poucas palavras. Na maioria das vezes, apenas um aceno. Eu o cumprimento por "namastê ji", em demonstração de respeito.
Há também o baba que ganha sua vidinha vendendo chai em um dos ghats.
- Com o dinheiro que junta, ele peregrina nos locais santos no período do Kumbha Mela. - explicou-me o mesmo amigo, que vem a Varanasi há vários anos e conhece todos eles.
Acontece que, antes dos babas de verdade, eu encontrara os babas de mentira. Com um deles, tirei uma foto engraçadinha, nós dois meditando. Dei-lhe vinte rúpias depois. Desde então, sempre nos reconhecemos e cumprimentamos. Às vezes o vejo por aí, a fazer pose, vibrar seu "ohm" bem grave e pedir dinheiro aos turistas. Outro dia ele passou por mim e fez uma pose:
- Tire uma foto.
- Não tenho dinheiro hoje.
- Que dinheiro! Pegue sua câmera!
Peguei-a correndo de dentro da bolsa e tirei a foto. Mostrei-lhe e ele aprovou, dando sua risada espalhafatosa. É como um Papai Noel bonachão, esse baba.
Hoje o encontrei novamente. Sorrimos um para o outro e ele me estendeu a mão, pedindo dinheiro. Dei-lhe dez rúpias e ele sorriu como um bonequinho, como um baba de brinquedo.
E daí que ele não seja um baba de verdade, se ele é um homem de verdade?
É que eu acredito na pureza e na santidade de tudo que é feito de carne, osso e desejo.

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